quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Entrevistas Labedisco: Prof.ª Marisa Gama-Khalil

Nesta entrevista concedida ao Labedisco, a professora adjunta da Universidade Federal de Uberlândia Marisa Martins Gama-Khalil – graduada em Português e Literatura pela Fundação Educacional Unificada Campograndense/RJ, mestre em Letras Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/Assis e doutora em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/Araraquara – discorre, nesta primeira parte, sobre o discurso literário presente no conto “Fita verde no cabelo”, de João Guimarães Rosa (o qual, para maior compreensão, você pode ler aqui).

Na segunda parte da entrevista, a professora fala, ademais, sobre Língua e Discurso. Assista:

Conto “Fita verde no cabelo (nova velha história)” de João Guimarães Rosa; Numa leitura do conto de fadas 'Chapeuzinho Vermelho', Guimarães Rosa mostra a trajetória das fantasias de uma adolescente até o confronto com a morte de sua avó, quando 'mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez'. Como curiosidade, o conto ganhou o Prêmio Jabuti de Melhor Ilustração e Melhor Produção Editorial pela Câmara Brasileira do Livro e o Prêmio Adolfo Aizen da União Brasileira de Escritores. Eis a seguir o texto:

Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita inventada no cabelo.
    Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita - Verde  partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar fambroesas.
    Daí, que, indo no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido, nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. Então ela, mesma, era quem dizia: "Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou". A aldeia e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são.
    E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vindo-lhe correndo, em pós. Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto passa por elas passa. Vinha sobejadamente.
    Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu:
    - "Quem é?"
    - "Sou eu..." - e Fita Verde descansou a voz. - "Sou sua linda netinha, com cesto e com pote, com a Fita Verde no cabelo, que a mamãe me mandou."
    Vai, a avó difícil, disse: - "Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus a abençoe."
    Fita Verde assim fez, e entrou e olhou.
    A avó estava na cama, rebuçada e só. Devia, para falar apagado e fraco e rouco, assim, de ter apanhado um ruim defluxo. Dizendo: - "Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo."
    Mas agora Fita Vede se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou:
    - "Vovozinha, que braços tão magros, os  seus, e que mãos tão trementes!"
    - "É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta...." - a avó murmurou.
    - "Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados".
    - "É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta..." - a avó suspirou.
    - "Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado, pálido?"
    - "É porque já não estou te vendo, nunca mais, minha netinha...." - a avó ainda gemeu.
    Fita Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez.
    Gritou: - "Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!..."
    Mas a avó não estava  mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo.

ROSA, João Guimarães. Fita Verde No Cabelo (Nova velha história). São Paulo, 1964.

(Gleyson Lima)

Entrevistas Labedisco: Prof. Cleudemar Alves Fernandes

O Grudiocorpo, através do Labedisco (Laboratório de Estudos do Discurso e do Corpo), entrevistou o Prof. Cleudemar Alves Fernandes, professor associado da Universidade Federal de Uberlândia, líder do Grupo de Pesquisa em Análise do Discurso daquela universidade (GPAD/UFU/CNPq) e coordenador do projeto de pesquisa “Vozes ao infinito: práticas discursivas e constituição de sujeitos em textos literários”, que, neste primeiro vídeo, falou um pouco sobre o seu livro Análise do discurso: reflexões introdutórias e sobre o que entender por Discurso. Confira abaixo:

Ainda, o professor abordou o tema do Sujeito discursivo:

E discorreu também sobre formação discursiva:

(Gleyson Lima)