Religião, história e produção do novo
Por Wilson Fernando
No encontro de terça-feira do Grudiocorpo, foi discutido o capítulo oito da Segunda Consideração Intempestiva, de Nietzsche. O capítulo, já nas primeiras linhas, trata do assunto em questão da seguinte maneira: “(...) justamente nos maiores e elevados homens desenvolvidos historicamente encontra-se com frequência uma consciência sufocada e levada até o ativismo mais universal, do quanto acreditar-se-ia no absurdo e na superstição da que a educação de um povo deveria ser tão preponderante na história como ela é agora (...)” (p. 66). O que ele quer dizer com isso é que o conhecimento baseado puramente na história faz do homem um ser preso a uma espécie de anacronismo, sem mudar sua expectativa quanto ao que é novo.
Nietzsche atribui esse pensamento, que ele chama de memento mori, que é o mesmo que momento morte, à religião, mais precisamente à judaico-cristã. Diz ele, “Ela [a religião] é a inimiga de todo novo plantio, de todo experimento ousado, de toda aspiração livre” (p. 68). Para ele, a religião funciona como amarras que impedem o homem de ousar. Em seu ritual histórico, a religião rejeita qualquer possibilidade de ousadia vinda do ser humano. Agregada à história, ela se utiliza de um tipo de discurso que deixa impotente o homem frente à história. Uma das armas da religião judaico-cristã seria, para Nietzsche, a frequente ameaça ao homem de um futuro tenebroso representado pelo juízo final. Com isso, o homem não deveria ousar no presente, com medo do futuro ou fim da história, e tinha por obrigação viver sempre remetido ao passado. Nietzsche critica fortemente essa maneira de pensar e amarrar o homem da religião.
Para ele, homem deve deixar de ser um “herdeiro” – o que para ele é ser forçado sempre a recorrer ao passado e se fechar ao novo – e passar a ser um “primogênito”, que pode ser inferido como um ser único a cada geração. Aquele que trabalhava em busca do novo, em busca do memento vivere.
Pontos abordados por Nilton e os participantes:
1) “Era uma vez” também funcionaria com uma arma contra o pensamento do futuro, uma vez que esse tipo de expressão já remete ao passado, funcionando como se ele fosse espelho para o que se faz no presente. (Acho que foi isso)
2) Para Foucault a história não é contínua. Não existe essa linearidade comum no pensamento de que a história passaria por períodos.
3) O juízo final é a – histórico, pois afirma que a história um dia teria fim.
4) Nietzsche propõe o novo como formador de história. Mas que novo? Existiria algo novo? De acordo com a discussão, sim. Não é a essência que seria nova, mas os novos olhares lançados sobre a obra. O exemplo mostrado por Nilton foi o de pinturas de Raphael, apontadas por Nietzsche em seu texto. A contemplação se dá a cada novo olhar sobre a pintura. Quer dizer que, a mesma pessoa que contemplou aquele quadro em sua época sentiu a essência e percebeu a obra de uma maneira, enquanto que um admirador de hoje contemplaria sob um novo contexto, uma nova história.
5) Nietzsche discorda da ideia de que o envelhecimento é significado de melhor. Isso só reforça aquela ideia de dependência do passado. Para ele, a juventude, representando o novo, é que expressa o que ele chamada de memento vivere, momento viver.
6) Para Nietzsche, o homem vive o que ele chama de memento mori – momento morte – por essa mesma dependência do passado e dessa crença de que é herdeiro dele.
7) Será que Mao teve uma forte identificação com o ideal nietzscheano para relevar adiante seu projeto de Revolução Cultural? A pergunta ventilou nossos cabelos. As respostas não vieram
8) Hitler, erroneamente, usou o ufanismo germânico de Nietzsche para definir seu projeto de eugenia.
Um comentário:
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