quarta-feira, 29 de abril de 2009

"Irreversível"

Irreversível (Irréversible, France, 2002)

Gênero: Drama

Duração: 97 minutos

Produtoras: 120 Films, Eskwad, Grandpierre, Les Cinémas de la Zone, Nord-Ouest Productions, Rossignon, Studio Canal.

Distribuição no Brasil: Europa Filmes.

Diretor e roteirista: Gaspar Noé

Elenco: Monica Bellucci, Vincent Cassel, Albert Dupontel

Seleção oficial Cannes 2002, ganhador do Cavalo de Bronze no Festival de Estocolmo

“Em todas as exibições desta produção, várias pessoas acabam abandonando a sala antes da metade da projeção”. Esse fato reflete o teor de Irreversível – que incomoda desde seu início – e possibilita abordá-lo de um ponto de vista discursivo, pensando na questão da semiologia. O diretor e roteirista franco-argentino Gaspar Noé se utiliza de uma série de procedimentos e técnicas interessantes para tratar o tempo, o espaço, e a movimentação de câmera ao longo do filme francês, provocando efeitos de sentido. A primeira coisa que emerge da tela são os créditos de encerramento, e isso nos revela a arquitetura temporal do longa-metragem. O filme é narrado em cronologia inversa, isto é, os fatos são apresentados de trás pra frente. O nome do filme se justifica pelo fato de haver um primado da consequência em relação à causa, e essa ordem gera uma irreversibilidade do acontecimento. Quanto ao espaço, destaca-se a boate gay Rectum, no interior da qual acontecerá uma das duas cenas mais chocantes do filme. Essa boate se apresenta já nas cenas iniciais, no momento em que encontramos os dois personagens Marcus e Pierre tomados pelo ódio e comportando-se de maneira animalesca em busca de vingança. No entanto, com o decorrer do filme, e, portanto, com o “recuo” no tempo, essa raiva vai sendo desconstruída, aproximando-os de indivíduos comuns. A movimentação da câmera é convulsiva: funciona como dispositivo de ligação entre as sequências narrativas e absorve a tensão do ambiente no qual se insere. O cineasta utiliza a trama para fazer curiosas indagações morais e sociais, como ao comparar o espaço da “burguesia” com o espaço da “perversão”, questionado o que faz um deles ser aceito e o outro interditado socialmente. Ao retratar a violência e o corpo violado, partimos do pressuposto de que a visão que se tem, atualmente, do estupro, foi construída historicamente a partir dos discursos jurídicos, que se alteraram em função das mudanças de mentalidades operadas ao longo dos séculos. Assim, com a ideia de que “o tempo destrói tudo”, o filme toca o espectador não pelos fatos que aconteceram, mas por tudo aquilo que ainda estaria por vir.

Comentários

Renan Belmonte Mazzola

João Marcos Kogawa

(UNESP - Araraquara/SP)

Um comentário:

Bruno Silva disse...

[PALESTRA]
Na verdade, apontar a contribuição que tivemos nela, será, de súbito impossível. Além d'eu ter sido apresentado ao tema "analise do discurso", tive um contato maior com dois grandes autores sobre o assunto. Muito gratificante.

[FILME]
Com suas imagens chocantes, nos fez refletir sobre alguns aspectos com relação a posição da mulher na sociedade... Um filme pertubador, mas de muito bom gosto, faz agente se sentir desconfortável com toda agressão exposta - esfregada.